quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Encontros imediatos de um estranho grau

Na semana passada revi uma cara. Cara essa que me voltou a olhar com um ar estranho e que trazia de novo água no bico. Uma cara que não tive sequer paciência para perder tempo com ela. Uma cara que vi no último dia de Julho deste ano.
Lembro-me bem. Tinha eu ido a Lisboa de propósito inscrever-me no curso de espanhol que iria frequentar e que começaria no primeiro dia de Agosto, ou seja, no dia seguinte.
Depois do objectivo cumprido, lá fui eu até à Gare do Oriente para apanhar um comboio que me trouxesse a casa. Entrei no comboio, escolhi um banco onde não tinha ninguém, para estar à minha vontade e sentei-me. Nisto entra um indíviduo na carruagem, anda para trás e para a frente e vai sentar-se mesmo à minha frente, no banco do lado. Pensei, mas que treta, com tanto lugar vago (e estavam mesmo), o raio do homem tinha que se sentar aqui. Olhei o homem de repente, é certo que lhe tirei as medidas e fechei os olhos a ouvir música numa de, deixa me estar na minha, caguei para a presença dele ali. Mas nunca pensei no que se iria passar ali durante os minutos seguintes. Eu, de olhos fechados, começo a sentir uma perna a bater-me levemente na minha. Ao que pensei, "que nervos", abri os olhos e vi que o indivíduo também tinha os olhos fechados. Voltei a pensar "Ainda por cima tem mania que é espaçoso, que isto deve ser tudo dele". Nisto, voltei a fechar os olhos e cada vez que sentia a dita perna, lá eu ia afastando as minhas em direcção à janela. Note-se que eu nesse dia estava de piratas e o tal homem de calções. Entretanto pensei "tu queres ver que o gajo está-se a fazer a mim? Nããã, é o homem que é espaçoso e isto são balanços do comboio. E depois ele não tem nda ar de ser gay, até ar de bem masculino".
Entretanto, aparece o revisor e ao ter que me mexer para tirar o meu passe dos bolsos, aproveito a ocasião e cruzo as pernas. Assim juntinhas, ficavam mais distantes da perna do gajo e embora encolhido, ficava mais à minha vontade.
Volto a fechar os olhos e de repente não queria crer no que se passava. Abro os olhos, o dito gajo permanece de olhos fechados e sinto e vejo um dedo dele e depois dois a fazerem me festas na perna direita, que por estar cruzada, batia no banco da frente. Ao que me aperecebi, assim que tinha fechado os olhos, o gajo pôs a mão dele numa posição do género a fazer apoio naquele banco e com a ponta dos dedos, lá me tocava na perna. Quando me apercebi daquilo, fiquei sem reacção. Congelei mesmo, do género, o que se passa, o que vem a ser isto, o que faço. Fiquei ali uns quantos minutos sem saber o que fazer. Nisto percebi pelo ligeiro sorriso do gajo, que afinal ele devia ter apenas os olhos semicerrados. Tal como disse, fiquei sem saber o que fazer. Já tinha sido assediado vezes sem conta em transportes públicos, quer no comboio, metro ou autocarro, mas nunca tinha chegado àquele ponto, ao ponto do contacto físico. Nisto pensei, "rapaz, que vais fazer tu? o gajo tem uma cara gira, boa constituição, andas pelos trinta e qualquer coisa anos... o que vais fazer?" Nisto aconteceu-me algo, que sinceramente não esperava... Comecei a excitar-me e a ficar com uma ligeira erecção. Uma situação estranha e embaraçosa para mim, porque não é nada hábito. Mais a mais, até relativamente há pouco tempo, cada vez que me apercebia de algum assédio, simplesmente escapava-me do sítio de onde estava porque queria lá saber de tais coisas. E naquele momento, estavam-me a surgir desejos. Digamos que o gajo começou a perceber que de certo modo eu estava a gostar e lá continuou a esfregar-me os dois dedos na perna. Embora confesse que estava a gostar, queria reagir e não sabia como. Estava a chegar ao meu destino. Tinha que me decidir e assim o fiz. Levantei-me e fui para a porta da carruagem até o comboio parar. O dito gajo ao reparei que me levantei e estando de costas para a porta, senta-se noutro banco para me ver e fazer a cara de "então não queres seguir comigo"? Não fui capaz. Por muito que as medidas daquele gajo me enchessem os meus desejos e por muito excitado que eu estava a ficar, não era aquilo que eu queria (assim como não quero) e nisto, simplesmente saí do comboio e fui à minha vida. E ele foi à sua, suponho.
Mas isto para concluir que o gajo na semana passada voltou me a ver na Gare do Oriente e eu a ele. E para não ter que passar por aquilo de novo ou algo semelhante e por não andar com pachorra para aquele tipo de cenas, nem pensei duas vezes. "Vais mas é para casa no urbano e não no regional". E resolvi o problema.

5 comentários:

paulo disse...

grande história, daquelas que não acontecem todos os dias. de qualquer modo, acho que teria feito o mesmo que tu. falta-me a coragem para quebrar o gelo. e se o revisse, acho que ficaria de todas as cores possíveis e imaginárias :)

Hydrargirum disse...

"E depois ele não tem nda ar de ser gay, até ar de bem masculino"

Queres com isto dizer que ser masculino é "sine qua non" de ser hetero?

Anónimo disse...

Alguns reparos importantes:

1- Ser gay não é sinónimo de ser bicha perdida, logo alguém muito masculino pode perfeitamente ser gay;

2 - Não percebo porque fugiste à situação, se o gajo era giro e te agradava ... não percebo. Quer dizer, percebo que tivesses de sair no teu destino, não percebo é que entrasses em pânico com as investidas ...

3 - Ia dizer mais qq coisa ... mas agora fiquei sem o fio de raciocínio

TheTalesMaker disse...

Expliquei-me mal, perdão. Há gays também muito masculinos e que enganam muito bem no sentido em que ninguém diria que eles fossem gays. Só que quando vi este gajo, embora o tivesse achado interessante, nada em nele dspertou o meu "gaydar", o que é raro, porque hoje em dia isto anda apuradíssimo. A título de exemplo, ainda recentemente numa conversa com um ex-colega de trabalho, estivemos a trocar opiniões sobre outras pessoas que trabalhavam connosco e de facto parece que o meu radar anda óptimo.
Espero ter-me feito entender agora.

TheTalesMaker disse...

Bramita:
Quanto ao não perceberes porque eu fugi e o meu pânico, digamos que eu não estou habituado a situações daquelas, sou inibido e fico sem saber o que fazer.
E se não fiz mais nada foi porque não estou afim de situações como aquelas. Não censuro quem as faz, atenção. Só que não me sinto à vontade e não vejo situações como esta fazerem parte da minha vida.
Quanto ao teu último tópico, desculpa, oki? Pões-te a falar comigo ao telemóvel e depois lá se vai o teu raciocínio. Sorryyy!